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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cachopas de marimbondo


Lembro bem, afinal de contas, não sou tão velho assim, mas o fato é que o tempo voa quando nos divertimos. Minha mãe sempre repetia para cuidarmos com os marimbondos, aquelas vespas que aparecem com maior freqüência no verão, pois eles tinham ferroada muito dolorida e não gostavam de brincadeira. Na casa de meus pais, seguidamente apareciam esses insetos, que sem fazer nove horas se estabeleciam no telhado ou nas árvores próximas e quando o calor apertava, rumavam para dentro de casa e ficavam ensandecidas dando topadas nos vidros e ricocheteando nas paredes da sala. Confesso não ser nenhum profundo conhecedor do assunto, mas lá em casa apareciam dois tipos básicos de marimbondos, os vermelhos, maiores e de aparência mais agressiva, e os pretos, esses menores, mas nem por isso menos desagradáveis. Uma das tarefas mais divertidas daquela época, era promover o despejo desses inquilinos indesejáveis. Investíamos contra sua colméia ou popularmente cachopa, munidos de vassouras e botávamos os danados para correr. Como diria Humberto Gessinger, pra ser sincero, algumas vezes eles invertiam essa perspectiva e daí era pernas para que te quero.

Anos mais tarde, já na juventude e à beira da maturidade nunca alcançada, quando eventualmente optávamos por exercer tarefas fora do ambiente colegial e não por isso menos importantes para nossa formação intelectual e cultural, seguidamente íamos a um buteco cujo nome não me lembro, só recordo que o lugar ficou conhecido como “Bar do Tiozão”. O tiozão em questão era um sujeito de meia idade, gordo, de bigode à la Olívio, cara de vilão de western espagheti, mas com grande senso de humor. Pois essa figuraça montou um bar todo paramentado com peças gaudérias, esporas, ferraduras, quadros, adagas, armas da época de revolução, chapéus, enfim, todo tipo de aparato gauchesco. Com alguma concentração era possível imaginar o visual retilíneo da fronteira e seu encontro com o horizonte, ouvir o som do quero-quero, sentir o ar da cochilha e inevitavelmente, até o cheiro de bosta de vaca. Mas o atrativo mais inusitado ficava pendurado na parede, próximo ao balcão de atendimento. Era uma grandiosa cachopa de marimbondo, montada engenhosamente sobre uma tora de madeira e ornamentada com barba de pau. Não deixava de ser intrigante aquela enorme cachopa de marimbondo, símbolo de perigo e ameaça, fixada próxima ao balcão. Representaria o que? Algo como: Não mexa no vespeiro, fiado só amanhã!? Nunca cheguei a nenhuma conclusão.

O tiozão era uma dessas figuras folclóricas, que mesmo administrando esse “galpão” com rédeas curtas, acabava sucumbindo ao nosso poder de persuasão e quando solicitado, silenciava as milongas que ecoavam de seu três em um e soltava um rock’n’roll macanudo que chegava a estremecer as garrafas de canha com butiá que ficavam expostas nas prateleiras. Nos fundos do estabelecimento ficava o local onde desenvolvíamos nossos conhecimentos sobre a disciplina de geometria espacial, com exercícios práticos resolvidos sobre uma mesa de sinuca.
Manhãs e tardes irresponsáveis marcadas por rock,cerveja e sinuca. Grata lembrança de uma época em que tínhamos mais tempo para fazer nada, o que já era muita coisa.

Daniel Weber

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